Após 51 dias de fuga, os dois presos que escaparam da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foram recapturados nesta quinta-feira em Marabá, no Pará. A caçada por Deibson Cabral Nascimento, de 33 anos, e Rogério da Silva Mendonça, de 36, ambos do Acre, começou na manhã da quarta-feira de cinzas, 14 de fevereiro, e seguiu até esta quinta-feira. O Ministério da Justiça informou que eles foram detidos em uma ação conjunta das Polícias Federal e Rodoviária Federal.
Esta foi a primeira fuga registrada na história do sistema penitenciário federal.
A dupla foi encontrada na cidade de Marabá (PA), que fica a 1.600 quilômetros de Mossoró (RN). Inquérito da Polícia Federal apontou que os dois receberam ajuda de uma rede de apoio mobilizada pelo Comando Vermelho, facção criminosa a qual eles eram integrantes no Acre. Os dois atravessaram três Estados - Ceará, Piauí e Maranhão - para chegar ao Pará.
Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, os fugitivos e quatro comparsas foram encurralados por equipes da Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma ponte na Rodovia Federal 222, nas proximidades de Marabá, no Pará, por volta das 13h30.
As investigações apontam que os dois planejavam ir para o exterior e contavam com "vários outros carros equipados e modernos".
— Essa ponte foi fechada, de um lado pela Polícia Rodoviária Federal, avisada porque se tratava de uma rodovia federal. E de outro lado, a Polícia Federal (...) Nessa abordagem, se constatou que os fugitivos estavam em um verdadeiro comboio do crime. Três carros foram apreendidos, com vários celulares e um fuzil — disse o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, após a operaç
Diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Andrei Rodrigues disse que ao serem abordados pelas equipes, os criminosos chegaram a apontar um fuzil. Todos foram levados para a Superintendência da corporação no Pará e devem responder pelo auxílio que prestaram aos fugitivos e também pelo porte da arma.
Lewandowski afirmou que a recaptura só foi possível devido a uma mudança de estratégia na operação. Após descobrirem que os fugitivos não estavam mais em Mossoró, as buscas no local foram reduzidas e as forças de segurança reforçaram os trabalhos de inteligência e investigação, até que descobriram a movimentação dos fugitivos em uma rodovia do Pará.
— Essa mudança de estratégia foi bem sucedida, porque a partir do momento que a PF soube que os dois fugitivos não estavam mais no local, eles o monitoram permanentemente até que pudessem ser localizados neste local.
Segundo Lewandowski, antes da recaptura desta quinta-feira, houve uma primeira tentativa falha de abordagem no Pará.
O ministro da Justiça explicou que os fugitivos irão retornar a Penitenciária Federal de Mossoró, que teve a direção trocada e passou por uma reformulação de protocolos e por uma melhoria na infraestrutura.
— Podemos garantir que o sistema penitenciário federal não é mais o mesmo depois do evento que ocorreu em Mossoró. Fizemos revistas e fiscalizações em todas as unidades. Mais dez mil câmeras foram adquiridas, sendo parte delas instaladas. Os procedimentos foram reforçados, com revistas diárias, e os problemas estruturais foram consertados — disse André Garcia, secretário nacional de Políticas Penitenciárias.
O ministro afirmou, ainda, que as investigações continuam, com foco agora nos comparsas e organização criminosa que auxiliaram durante os 51 dias de fuga. De acordo com Lewandowski, moradores foram cooptados pelos criminosos, mas depois houve a entrada de veículos que os transportariam para fora do país.
— Estamos investigando ainda todas as forças envolvidas, qual organização participou efetivamente da fuga (...) me parece um prazo razoável, 50 dias. Segue os paradigmas internacionais, não chegamos a 2 meses — destacou.
Em fevereiro, os dois deixaram o presídio de segurança máxima por volta das 3h da madrugada, quando teriam escalado até o teto através de um buraco aberto na luminária e, em seguida, cortado uma cerca. Durante os mais de 50 dias, a operação de buscas mobilizou equipes com cães, drones, helicópteros, reforços de policiamento nas fronteiras do estado e o acionamento da Interpol (Polícia Internacional).
Nos dias seguintes à fuga, foram encontrados pegadas e objetos que pertenceriam à dupla e foram usados para traçar o caminho que eles teriam percorrido. De acordo com o 2º Batalhão da Polícia Militar (2 BPM) foram localizadas duas camisas, uma rede e rastros de sapatilhas semelhantes às usadas pelos internos no presídio federal.
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Investigadores encontraram roupas, calçados e pegadas de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça
Desde que o caso veio a público, uma operação integrada envolvendo as forças de segurança federais, estaduais e até de estados vizinhos foi montada em Mossoró, com o objetivo de recuperar os foragidos. As tropas fizeram buscas na região, inclusive com uso dos helicópteros da Polícia Rodoviária Federal e do Potiguar 02, da Secretaria de Segurança Pública do estado.
A Polícia Federal investiga se houve facilitação na fuga. Já se sabe, por exemplo, que uma obra que vinha sendo realizada no presídio pode ter contribuído para a empreitada da dupla.
Durante o período em que estiveram foragidos, Deibson e Rogério teriam contado com uma rede de apoio do lado de fora do presídio. Com a operação de hoje, 14 pessoas foram presas. Um dos detidos foi o mecânico Ronaildo Fernandes, que teria recebido R$ 5 mil em sua conta para repassar aos fugitivos.
Fernandes é dono de uma imóvel em Baraúna, na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, onde a dupla ficou escondida por oito dias. No local, Nascimento e Mendonça se refugiaram em uma cabana montada no meio da roça e cavaram buracos para escapar da vista de drones e helicópteros. Ele alegou inocência, dizendo que foi coagido a prestar o auxílio.
Além das prisões, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE). Os investigadores desconfiam que os foragidos tenham recebido apoio de integrantes do Comando Vermelho, que atuam na região. Um carro e armamento chegaram a ser apreendidos na residência de um dos alvos.
Lewandowski voltou ao Rio Grande do Norte no dia que antecedia um mês de buscas (13 de março) para verificar como seguiam as investigações do caso. Na época, declarou haver evidências de que os detentos continuam na região.
— Temos hoje convicção de que eles se encontram na região ainda. No dia 2 de março foram avistados. E no dia 12 de março (ontem) houve rastreamento positivo, que foi feito a partir da constatação de que cães de determinada casa ficaram bastante agitados — afirmou na ocasião.
No dia 1° de março eles invadiram um galpão e agrediram o dono da propriedade que fica em uma comunidade rural de Baraúna (RN), na divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.
Ambos são do Acre e estavam na Penitenciária Federal de Mossoró desde 27 de setembro de 2023, conforme divulgado na época pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Deibson estava preso desde agosto de 2015, já tendo passado também pelo presídio federal de Catanduva (PR). Ele tem condenações e responde por assaltos, furtos, roubos homicídio e latrocínio.
Rogério, que também tem vasta ficha criminal, também cumpria pena no Acre, quando foi determinada sua transferência para o Rio Grande do Norte. Ambos são apontados como membros de organização criminosa e cumpririam pena de dois anos, até 25 de setembro de 2025.
Informações do O Globo
Rogério e Deibson foram recapturados no Pará — Foto: Divulgação/PF
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