Uma das profissões mais bacanas da área de comunicação é a fotografia. O ato de registrar é fundamental para manter a memória viva, prática essa feita com maestria pelo fotógrafo. Neste dia 19 de agosto, data Mundial da Fotografia, o Acorda Cidade conversou com dois profissionais que dedicam suas vidas à arte de fotografar e que são apaixonados pelo que fazem.
A data faz alusão a criação do daguerreótipo, antigo aparelho fotográfico criado por Louis Jacques Mandé Daguerre com influência dos estudos de Joseph Nicéphore Niépce, os franceses conhecidos como pais da fotografia. Foi em 12 de agosto de 1839 que a Academia Francesa de Ciência anunciava mundialmente a invenção.
Em Feira de Santana, atualmente, essas duas personalidades que podem ser consideradas os “irmãos da fotografia” são Jorge Luiz Bastos de Magalhães e Antônio Carlos Bastos de Magalhães, fotógrafos que atuam na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Feira e possuem um legado familiar na área.
Para celebrar essa data, o Acorda Cidade foi conhecer um pouco de cada um dos irmãos, captar alguns detalhes que tornam a profissão tão apaixonante, além de saber sobre o legado que sobrevive na família há muitos anos.
“Começamos com a fotografia tanto eu quanto meu irmão, muito novos e em torno de oito, nove anos quando a gente começou ajudando o nosso pai, fotógrafo Antônio Magalhães. Painho faleceu há pouco tempo. Então a gente tinha que estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Naquela época em que nós trabalhávamos, ajudávamos o nosso pai, não existia essa questão tão grande voltada a preocupação das crianças e adolescentes não trabalharem. Então isso não nos tirou nada, ao contrário, esse trabalho que fizemos desde pequeno nos engrandeceu e nos formou além de homens, nos formou como profissionais”, contou ACM.
Ao lado do pai, eles começaram em grande estilo. Fotografavam casamentos, festas, a famosa Micareta de Feira entre tantos eventos na cidade que deram a oportunidade de conhecer ilustres personalidades da sociedade feirense.
Trabalhando desde o tempo em que as fotografias eram reveladas, ACM se profissionalizou aos 14 anos quando assinou sua carteira de trabalho como repórter fotográfico pelo Jornal Feira Hoje.
ACM contou que um dos desafios da profissão é o compromisso com a informação. Por muitas vezes, ele já foi convidado a se retirar de certos lugares para não registrar a notícia.
Antigamente, para se revelar uma fotografia levava em torno de 20 minutos, depois mais seis a oito horas para secar, o que hoje, a modernidade realiza através de um clique. Aos 60 anos, ele já presenciou e muito a mudança da profissão.
O fotógrafo destacou o quanto a tecnologia ainda pode ser barreiras para muitos outros profissionais que ainda não conseguiram se adaptar à inovação digital.
“Infelizmente alguns, vamos dizer assim, não evoluíram tecnologicamente e estão fadados, estão pagando ou até passando dificuldade mesmo, cidades pequenas mesmo, a gente vê que tem profissionais que tiveram que mudar, um profissional que fazia fotos muito bem, teve que mudar de profissão”, disse ACM.
Ao lado do irmão, Jorge Magalhães presenciou essa mudança do preto e branco para o colorido. Ao Acorda Cidade, ele também falou sobre esse processo de analógico para o digital na área da fotografia.
“Os primeiros laboratórios fotográficos daqui de Feira de Santana nós vimos o nosso pai juntamente com nosso amigo Elídio, os dois hoje só na recordação do coração da gente, ver eles construir e fazer aqueles tanques de revelação de foto e a gente vê transformando já algo colorido, a fotografia colorida”, contou Jorge.
Jorge relembrou momentos marcantes da história da família, como quando seu pai, Antônio Magalhães, um dos primeiros repórteres fotográficos de Feira, conseguiu registrar o cometa Kohoutek.
“Meu pai com a câmera fotográfica na época uma Pentax com uma lente de mil, convidamos o delegado da Receita Federal e outros fiscais da receita para dar autenticidade das fotos em outras pessoas de referência, porque muitas vezes eles poderiam pensar que tinha sido uma coisa criada, arrumada, mas como o negativo e a fotografia revelada é um documento de grande muita importância como é até hoje, nós tivemos esse registro do cometa Kohoutek, fizemos o registro do cometa Halley, que nem o observatório nacional do Rio de Janeiro não tinha ainda feito o registro”, relembrou Jorge Magalhães.
Essas fotografias saíram em jornais nacionais como o Jornal do Brasil, O Globo entre outros.
Hoje, eles já estão muito familiarizados com a tecnologia. Para ACM, as novas maneiras de registrar são ótimas, pois você pode editar uma foto, melhorar a qualidade, fazer alterações que antes não eram possíveis.
Com a facilidade das tecnologias, afinal, hoje, um celular pode fotografar, editar, modificar uma foto de inúmeras formas, tanto a fotografia quanto a comunicação perderam valores, inclusive, éticos na forma como esses produtos são realizados.
“Hoje essa facilidade de fotografar e filmar pelo celular, isso deixa algumas pessoas achando que elas podem fazer o nosso trabalho, que o nosso trabalho é fácil. Mas esquece que há uma necessidade ética. Até onde eu posso chegar e até onde eu não posso. E aí, infelizmente alguns perdem o seu campo de atuação, perdem o seu ganha pão mesmo. Tanto na fotografia quanto na comunicação de modo geral”, disse ACM.
Entretanto, ACM ressalta que a fotografia hoje pode reinventar pois ainda há muitas mídias no mercado que necessitam do serviço, principalmente, com o olhar apurado, profissional e sensível que um verdadeiro fotógrafo possui.
ACM também é professor de fotografia em duas faculdades de Feira de Santana. Aos alunos ele ensina sobre os fundamentos, a fotografia publicitária e o fotojornalismo.
“Na edição do fotojornalismo tem que ser a verdade, eu não devo alterar, a minha foto precisa informar mesmo que ela esteja um pouco desfocada ou tremida, mas se der para as pessoas entenderem a fotografia pode ser utilizada. O mais natural possível. Na fotografia publicitária não. Eu posso editar. Agora lembrando de que existe uma coisa, o bom senso deve atuar para que eu não modifique de tal forma que quando eu vejo aquele produto, aquele serviço, não modifique tanto. Ele precisa mostrar também a realidade”, explicou ACM.
Falando sobre o poder da fotografia, ACM destacou o quanto a imagem tem o poder dizer mais que mil palavras.
“É muito bom você ver o texto e uma foto se casando perfeitamente. A imagem encanta, a imagem seduz. Ela faz com que eu tenha mais gosto de ler aquela matéria, de ver, de folhear aquela revista e observe, que até mesmo os programas de televisão quando nós temos imagens eles ficam fáceis, mais vistos pela população. Fotografia é arte. Até anos atrás nós não éramos entendidos como artistas. Mas se eu tenho um olhar único, eu sou um artista sim. Eu mostro o que eu tenho no meu eu, a minha sensibilidade”, acrescentou ACM.
Entre câmeras manuais e automáticas, Jorge ainda destacou o significado da fotografia para toda a sua família, não apenas como sustento e legado pessoal, mas toda a contribuição para manter viva a história de Feira de Santana.
“A fotografia para mim, para meu irmão, para nossa família é o nosso ganha pão, a nossa vida e o mais importante, o marco histórico de mantermos viva a história da transformação de Feira de Santana. Nós temos um arquivo fotográfico histórico de negativos e fotografias feita da época de meu pai que está lá na residência da nossa mãe, a gente manteve esse arquivo lá, já digitalizamos uma boa parte dele e temos os nossos arquivos que viemos registrando nos últimos anos por parte da Secretaria de Comunicação da Prefeitura e todos os outros que nós fazemos no dia a dia em HDs, pendrives, a gente sempre tem várias formas de armazenar essas fotos para evitar algum problema de corromper”, contou Jorge.
Sobre a data em celebração ao Dia da Fotografia no Brasil, Jorge pontuou o quanto a categoria ainda precisa do reconhecimento por parte do estado. Ainda hoje, a profissão não é regulamentada.
“Meu pai lutou durante muitos anos com deputados estaduais, federais e governadores para intermediar por Brasília reconhecimento da nossa classe. E infelizmente até hoje não temos. Vivemos, festejamos porque como ACM falou, a fotografia eterniza um momento, uma fase da vida das pessoas e dos lugares. Imagina só a gente hoje pensar como era a Avenida Senhor dos Passos há 60 anos se nós não tivéssemos esse material eternizado e guardado. Ficava só na memória, num escrito num papel. A importância da fotografia com relação até o texto. A gente fala, é muito bom, emociona demais, mas quando você vê aquele registro, não tem nem palavras para um sentimento desse”, completou Jorge.
Com informações e fotos do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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