No final da década de 1950, Feira de Santana começava a se desenvolver caminhando para 140 mil habitantes - com os urbanos perdendo para os ruralistas -, eram 69 mil moradores da sede contra 71 mil da zona rural. E a juventude via os dias passando em “preto e branco”. Poucas opções para divertimento fora dos muros das escolas. As peladas (partidas de futebol) no final da tarde, uma festinha, matinês no Cine Teatro Íris, aos domingos programas de auditório nas rádios Cultura e Sociedade. Até namorar era difícil a não ser para quem tivesse o “topete” de pensar em casar.
Alegria mesmo só na Micareta, Festa de Santana e no São João. Mas, vale lembrar que a partir de 1954, quando o Fluminense passou a disputar o campeonato profissional, somou-se mais uma alegria ao pouco que existia. Todavia em 1958 a visão empresarial de Chiquinho Caribé (Francisco Caribé) viria mudar esse panorama. A ideia de ligar a barulhenta comercial Sales Barbosa à Praça da Bandeira, de forma breve e atrativa, foi projetada pelo jovem arquiteto Amélio Amorim.
Na verdade um projeto simples, não era uma ponte Rio-Niterói, mas fazer um ELE esticado, entre dois pontos. Pronta e logo ocupada por dezenas de lojas de gêneros diversos – calçados, confecções, joias, relógios, presentes, armarinho, brinquedos, discos – a Galeria Caribé tornou-se o point dos jovens e dos adultos também, que às vezes nada tendo a fazer naquela parte da cidade, sempre encontrava uma forma de justificar sua presença ali.
O músico Israel Exalto, na época com seus 16 anos, diz que ia ali ver as capas de LPs na vitrine da Discolândia e disso não esquece. Gerson Cordeiro garante que seu negócio era outro: “as meninas mais bonitas da cidade desfilavam na galeria e eu ia ver”. Certo é que durante muito tempo a Galeria Caribé foi o ‘point’ da juventude feirense. Mesmo aos domingos com as lojas fechadas, o desfile continuava para “olhar as vitrines”. Ainda sem a vulgarização do jeans e dos cabelões, seguindo mais o modelo dos galãs do cinema da época "fumar cigarro e mascar chiclete" os rapazes tentavam abordar as belas adolescentes, que ainda não conheciam as posteriores minissaias, mas esmeravam-se para parecer ainda mais atraentes.
Filho da professora Artemia Pires, que hoje dá nome a uma das regiões mais prósperas de Feira de Santana, Carlos Cesar Pires Freitas, o Carlinhos, proprietário do Armarinho Marta, pode ser visto como um “totem”, símbolo da instituição. Lembra que o armarinho existe desde 1958, quando a galeria surgiu. Pertencia ao comerciante Ferreirinha, que resolveu deixar o ramo e vendeu a seu pai Epifânio Silva Freitas.
Em 1960, Epifânio Freitas passou a administrar o Armarinho Marta e, Carlinhos, ainda muito jovem, a ajudá-lo. Hoje a filha de Carlinhos, Carla Cerqueira, administra a loja. Há 64 anos na Galeria Caribé, Carlos Cesar Pires Freitas conhece tudo sobre a primeira galeria da cidade princesa, evocando com facilidade muitos contemporâneos e posteriores que ali atuaram. Não deixa transparecer tristeza, mas corrobora quando alguém diz: "Feira ficou moderna, colorida, quando a Galeria Caribé chegou!”.
Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.
Por: Zadir Marques Porto
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