Na vida de cada um de nós há fatos, momentos e locais que, mesmo depois de muito tempo, dificilmente são esquecidos. É o caso do Bar RN, fechado há mais de meio século, mas até hoje lembrado por muitos dos seus antigos frequentadores.
Já são mais de 50 anos e muitos ainda guardam lembranças saudosas do antigo Bar RN, na verdade bar, restaurante e sorveteria RN, que ficava localizado na confluência das ruas Carlos Gomes e Visconde do Rio Branco, exatamente em frente ao Feira Tênis Clube (FTC), hoje Centro Municipal Integrado de Educação Inclusiva Colbert Martins da Silva. Para os que ali frequentaram, as lembranças fazem parte de um tempo feliz, quando era possível andar pelas ruas durante a madrugada e ainda dormir com as janelas abertas e portas apenas encostadas.
A cidade princesa adormecia e acordava sem notícias de violência, e o Bar RN estava ali, em um prédio grande, sólido e acolhedor, onde amigos se reuniam para conversar, tomar cerveja ou o famoso sorvete Quitandinha, uma mistura saborosa que deixava as pessoas curiosas, pois não se sabia com exatidão quais os produtos contidos no sorvete. Mas, se o cliente desejasse um prato fino, havia o restaurante à la carte, contando com bons cozinheiros.
Para os frequentadores desse ambiente, o RN era como um pequeno paraíso de onde era difícil se desgrudar. Vindo do município de Mairi, José Bacelar Rios, ou Zeca Bacelar como se tornou conhecido, conseguiu imprimir um ritmo de trabalho próprio no estabelecimento para atender ao feirense, às pessoas procedentes do sertão baiano e do Nordeste, já que era grande o movimento migratório na época.
O RN adotado no nome do estabelecimento, que muitos pensavam tratar-se de uma referência ao Rio Grande do Norte, por ser o proprietário potiguar, nada tinha de verdadeiro. Baiano de Mairi, Zeca Bacelar focava inteligentemente na população migrante da região Nordeste, tanto assim que quase ao mesmo tempo ele inaugurou o Abrigo Nordestino, na Praça Dom Pedro II, que foi transformado em uma loja de confecções.
Final da década de 1950, quando o RN surgiu, coincidiu com o despontar do Feira Tênis Clube (FTC), atraindo a sociedade feirense para os eventos festivos ali realizados e a notoriedade alcançada pela feira-livre nos dias de segunda-feira. Desse modo, antes e depois das programações desenvolvidas no FTC, como bailes, apresentação de cantores e grupos musicais, formaturas, ou mesmo festas como a Micareta, grande parte dos seus associados reunia-se no Bar RN.
Na época, o desfile do préstito da Micareta, os carros do rei, rainha e princesas da festa, os trios elétricos e demais entidades passavam em frente ao RN, que se constituía em um grande camarote natural. O advogado Dalvaro Neto, filho do doutor Hugo Navarro, que residia na mesma rua e bem próximo, lembra da adolescência tomando sorvete e chupando picolé no RN. “O desfile da Micareta vinha pela Rua Visconde do Rio Branco, adentrava pela Rua Conselheiro Rui Barbosa e subia pela Avenida Senhor dos Passos para o centro da cidade”.
Acrescenta Dalvaro que a rapaziada que jogava basquetebol, futebol de salão e vôlei no Tênis, fazia do RN o ponto de referência. Da mesma forma acontecia nas segundas-feiras durante a feira-livre, já que muitas pessoas iam ali fazer “uma merenda”, como se falava na hora do lanche. E no final da tarde, com o término da feira, era intensa a presença de feirantes, vendedores de gado e participantes do movimento comercial já em preparativos para retornar aos locais de onde procediam. Essa rotina fez do RN um point da maior relevância para a cidade, frequentado por figuras de destaque da sociedade local. Nos finais de semana e datas festivas, o horário de funcionamento era prolongado, ficando o bar praticamente sem fechar.
Homem dinâmico, que tinha a honestidade e o respeito como marcas, José Bacelar Rios, casado com a bela senhora Maria Edite Bacelar, que lhe deu nove filhos, não era festeiro, mas gostava de dedilhar violão em sua residência, enquanto sua esposa tocava acordeom. Duas filhas dedicavam-se ao piano e o filho Carlos Bacelar – Carlinhos tocava violão e guitarra, além de cantar. Zeca Bacelar faleceu ainda jovem em 1969. Durante dois anos, seus filhos Joselito (falecido) e Carlinhos ficaram à frente do Bar RN e do Abrigo Nordestino, mas eram muito jovens e sem experiência, preferindo a família desfazer-se dos dois estabelecimentos. Hoje resta a saudade para aqueles que desfrutaram dos bons momentos propiciados pelo RN!
Por Zadir Marques Porto