Já houve tempo em que uma vaga de táxi em Feira de Santana ‘valia ouro’ e era disputada por muitos. Hoje, com o uso intensivo dos aplicativos, os táxis são pouco vistos em circulação, mas oficialmente podem ser até 1.250. Há 45 anos presidindo o Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Sincaver), mediante sucessivas eleições, o ex-vereador Liomar Ferreira da Silva lembra aspectos da história da entidade, que surgiu como associação entre os anos de 1965/1966.
Hoje não é tão fácil vê-los circulando pelas ruas, em função dos aplicativos que fazem parte do avanço da tecnologia, mas a frota ainda está estabilizada em 1.250 veículos, como ficou definido no governo do prefeito Colbert Martins da Silva (1977/1982), para atender à grande demanda de então. Mas os táxis – carros de praça como eram chamados – fazem parte do cenário da cidade princesa muito antes disso, talvez desde a década de 1940. Na época eram poucos, talvez contados em uma mão, de cor preta, e ficavam parados na Praça da Bandeira e no estacionamento em frente à Prefeitura Municipal.
Na década de 1970, com o aumento expressivo do número desses veículos destinados ao transporte individual de passageiro, por conta do crescimento incomum da cidade, surgiu a necessidade de estabelecer normas de funcionamento, não só para garantir um melhor atendimento ao público usuário, como já ocorria nas grandes cidades, como capacitar o profissional do volante, e atender a determinações legais que eram observadas pela administração municipal.
O primeiro passo seria congregar a crescente categoria, como outras tantas já existentes e reconhecidas oficialmente, mediante a constituição de uma associação, como era previsto legalmente na época, e isso aconteceu entre os anos de 1965/1966, com a entidade sendo presidida por Ocelo Nabuco. Como havia a exigência do cumprimento de seis anos como associação para a transformação em sindicato, essa transição veio ocorrer em 1972, quando o professor e taxista José Olegário foi eleito presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (SINCAVER).
Em 1979, houve a segunda eleição, concorrendo Edson Perrone, pela situação, e o jovem Liomar Ferreira da Silva, ex-funcionário das empresas Santana e Itapemirim, e desde 1976 fazendo parte da categoria, com um Fusca 1975, cor creme. A campanha ganhou ares de uma eleição partidária, com anúncios e entrevistas em emissoras de rádio e jornais. Estrategicamente, Liomar Ferreira usou um cartaz que era colado em táxis, e nessa peça publicitária ele aparecia ao lado do seu veículo. O resultado nas urnas foi o esperado por ele, elegendo-se com ‘aproximadamente 302 votos, dos 500 e poucos possíveis, mas foi uma eleição muito disputada’, ressalta.
A posse de Liomar foi em 6 de janeiro de 1980, e até hoje ele continua na direção do Sincaver, mediante sucessivas vitórias, algumas muito difíceis, reconhece. “As últimas, as mais recentes, não. Mas em algumas anteriores tive embates duros nas disputas com Daniel e José Rocha. Nas últimas fui candidato único”, diz. Além de ter sido um atuante vereador pelo MDB, entre 1989 e 1992, e há 45 anos à frente do Sincaver, ele conhece bastante a história da categoria, lembrando que no início as corridas eram cobradas com base em valores estabelecidos pela Prefeitura, que fornecia uma tabela. Mas, diante da demora na liberação do documento, o que gerava prejuízos para o taxista quando havia aumento tarifário, o sindicato tomou a iniciativa e durante bom tempo imprimiu e forneceu a tabela: ‘era de graça para os sindicalizados’.
A frota de táxis da cidade chegou a ser padronizada, com os veículos de cor branca, o brasão do município e o número de ordem. Mas, devido à dificuldade, na época, de encontrar carros com a pintura branca, a medida foi revogada pela Prefeitura, na época titulada pelo professor José Raimundo Azevedo (1994/1996). Outra importante medida foi adotada pelo prefeito Colbert Martins da Silva, que ‘acabou com a taxa de estacionamento, isentou a cobrança do ISS e a obrigatoriedade dos pontos fixos, que representavam um enorme prejuízo para o profissional. Imagine um taxista sair do seu ponto na Getúlio Vargas, levar um passageiro no Sobradinho e ter que voltar ao ponto de origem para pegar outra corrida!’ – observa Liomar.
Outra boa medida veio com a inovação do taxímetro digital, em substituição aos mecânicos que eram aferidos pelo Inmetro. A fiscalização do serviço era rigorosa e, quando o taxista, por uma razão superior, não podia atender um passageiro, era obrigado a cobrir o taxímetro com uma espécie de capa e retirar o luminoso. Com o surgimento dos aplicativos, muita coisa mudou, inclusive a venda de vaga ou licença, que já foi altamente valorizada e hoje é proibida. Houve época de uma vaga em Feira custar R$ 75 mil; em Salvador, R$ 150 mil; e R$ 200 mil em Vitória da Conquista. ‘Hoje, se o profissional não puder continuar trabalhando ou se ele deixar a atividade por algum motivo, é obrigado a devolver a licença à Prefeitura. É a lei’.
Hoje, o uso de ‘carros de praça’ através de aplicativos é uma realidade, acreditando o dirigente sindical que o número deles chegue a ultrapassar os seis mil veículos, uma vez que a atividade para muitos é complementar, exercida por pessoas que têm diferentes profissões e rodam para pegar passageiros quando têm disponibilidade para isso. No caso do taxista, ele tem que exercer a profissão. Em Feira de Santana, oficialmente, são 1.250 vagas desde o governo de Colbert Martins da Silva. ‘Eram 1.000 táxis até o governo de José Falcão, mas houve pedidos insistentes para mais 250, ficando assim em 1.250’. Deve ter ocorrido uma pequena redução, observa, mas esse quantitativo é incompatível até mesmo para os dias atuais. ‘É previsto no Sul do país um táxi para cada mil habitantes. Se mantida essa proporcionalidade, hoje Feira deveria contar com pouco mais de 600 táxis, mas há muito tempo, oficialmente ou por lei, a frota foi oficializada em 1.250 veículos’ – conclui o presidente do Sincaver.
Por Zadir Marques Porto
Fotos: Arquivo Pessoal Liomar Ferreira