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João do Ouro escreveu sua história de vida como uma joia valiosa

Um legado de trabalho, honestidade e liderança em Feira de Santana

Redação
Por: Redação
29/01/2025 às 08h25
João do Ouro escreveu sua história de vida como uma joia valiosa
Foto: Arquivo de família

Negociar com joias e ouro foi a escolha que ele fez ao chegar em Feira de Santana ainda bastante jovem. Tornou-se referência no ramo, trouxe parentes e conterrâneos para a cidade e, como líder do bem, ganhou merecidamente o título de Cidadão Feirense, além de outras homenagens. Foi vereador e por pouco não concorreu a deputado estadual. Oriundo de uma pequena localidade de Pernambuco, João Serafim de Lima orgulhava-se de ser chamado ‘João do Ouro’.

Ser líder não é fácil. Requer uma série de conhecimentos que, algumas vezes, fazem com que haja distorções no comportamento de quem chega ao topo, seja na sociedade, em um negócio ou em qualquer outra atividade, criando um clima austero e até indesejado. Esse não foi o caso de João do Ouro (João Serafim de Lima), que chegou a ostentar uma privilegiada posição em Feira de Santana, mas de forma natural e sem pressão, apoiado na amizade que soube construir, como só os bons líderes conseguem.

Pernambucano de Poço Escuro, uma pequena comunidade de Serra Talhada, desde cedo escolheu o trabalho como forma de vida, sem encantamento por festas e boêmias. Com pouco mais de 20 anos, assumiu um compromisso maior, casando-se com a bela jovem Ozita, de apenas 16 anos, que se tornou Ozita Serafim de Lima, natural de Flores. A cerimônia de casamento ocorreu na cidade pernambucana de Calumbi.

Trabalhador, mudou-se para a cidade de Paulo Afonso, mas, como muitos outros nordestinos, foi atraído pela fama de progresso de Feira de Santana e, em fevereiro de 1957, chegou à cidade princesa. Confiante em sua capacidade de trabalho, começou a vender objetos de ouro em uma banca na Praça Dom Pedro II, mais conhecida como Praça do Nordestino, devido à existência do Abrigo Nordestino, que posteriormente deu lugar a uma loja de confecções. Negócios marcados pela seriedade e honestidade do jovem pernambucano logo impulsionaram sua atividade.

Pouco tempo depois, ele já estava na Rua Marechal Deodoro, ao lado das Lojas Pernambucanas, ampliando o comércio de joias e ouro, gerando uma verdadeira migração de parentes e amigos de Serra Talhada e municípios próximos. Além de recepcionar conterrâneos, João Serafim de Lima fornecia material para que eles comercializassem e abrigava muitos deles temporariamente em sua casa. O nome “João do Ouro” surgiu assim naturalmente, como um “título” do qual ele se orgulhava.

Apesar de ter limitado seus estudos ao curso primário, tinha fluidez na conversação e, para melhorar os conhecimentos, depois de algum tempo na cidade, contratou um experiente professor que ministrava aulas em sua residência. Seu prestígio junto à colônia nordestina chamou a atenção de políticos locais, a começar pelo ex-governador João Durval, na época candidato a prefeito do município. Todavia, foi levado pelo deputado Hamilton Cohim, que residia na Praça Dom Pedro II e o conheceu na sua banca de comercialização de joias, para o lado politicamente oposto.

 

João do Ouro fez grandes amizades na política a partir de Hamilton Cohim, Colbert Martins da Silva, Chico Pinto, Lomanto Júnior, Ulisses Guimarães, Roberto Santos, aos quais recepcionou em sua ampla residência no Largo de São Francisco, Kalilândia. Foi vereador em dois mandatos e chegou a ter seu nome anunciado para deputado estadual, mas ficou impossibilitada sua candidatura e, com isso, resolveu deixar a linha de frente da atividade política.

Homem simples, apesar do prestígio que gozava, era caseiro, gostava de jogar baralho e dominó com amigos e de forró. Era amigo de Luiz Gonzaga, e este, sempre que vinha à região, não deixava de visitá-lo. O ‘rei do baião’, em um dos seus discos, com Raimundo Fagner, homenageia-o na faixa *Feira do Gado*, quando, em meio ao canto, diz que está conduzindo uma boiada de João, e quando Fagner questiona “que João?”, ele responde: “João do Ouro”. Foi feliz no casamento e dona Ozita lhe deu sete filhos: Severino, Maria das Graças, Ivone, João Filho, Gilson, Genésio e Alessandra. Genésio Serafim foi vereador em quatro mandatos.

Apreciador das coisas do sertão, João do Ouro trouxe para esta cidade repentistas do nível de Geraldo Amâncio, Pedro Bandeira e Ivanildo Vila Nova. Gostava de dançar forró com dona Ozita, de ouvir Luiz Gonzaga, Jacinto Limeira, Marines, Ari Lobo, dentre outros artistas, e de receber amigos em sua residência. Através dele, vieram para esta cidade Roldão Brasil, Pedro Ferreira e outros que muito trabalharam, contribuindo para o desenvolvimento do comércio local.

Como reconhecimento, recebeu o título de ‘Cidadão Feirense’, além de ter seu nome em uma rua, em um loteamento e em um prédio escolar. João Serafim de Lima, conforme seu filho Severino Serafim de Lima, orgulhava-se de ser chamado de ‘João do Ouro’, e Severino orgulha-se do pai: “Um homem de bem, honesto nos negócios, verdadeiramente amigo dos amigos. Como pai, foi um homem exemplar, que aconselhava e nos mostrava sempre o caminho certo, o caminho do bem”. João Serafim de Lima faleceu aos 59 anos, vítima de um infarto, no dia 5 de outubro de 1989, deixando a imagem que só os homens corretos conseguem deixar.

Por Zadir Marques Porto

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